Mudança climática envia sinal de fumaça
Oscilações climáticas drásticas entre secas e inundações são sinais do aquecimento global. No Brasil, a natureza agora envia sinais de fumaça. O fogo na amazônia e no pantanal produz nuvens de fuligem que chegam até Santa Catarina; chamas no interior de São Paulo encobrem o céu do estado.
O período do inverno é de fato mais seco, propício a queimadas, mas os eventos registrados até o momento situam-se fora da curva.
Desde 2010, a amazônia vive estiagens mais fortes e prolongadas. Em 2023, o Rio Negro atingiu o menor nível em 120 anos, e a fumaça tomou conta de cidades da região.
Neste ano, com a mudança climática aliada ao El Niño, a seca no geral mais intensa no segundo semestre foi antecipada, o que aumentou os focos de calor já na primeira metade do ano.
Entre 1º de janeiro a 26 de julho, o bioma teve 21.221 desses eventos, ante 12.114 no mesmo período de 2005 — até então, ano com o maior número nas últimas duas décadas. A alta é de 75%.
Com menos umidade e temperaturas em elevação, a vegetação resseca mais rápido e de modo mais intenso, produzindo enorme quantidade de matéria orgânica inflamável. É por isso que, em 2023 e neste ano, pesquisas revelam mudanças no padrão das queimadas.
Agora, o fogo não está ligado apenas ao desmatamento produzido pela agropecuária, mas atinge também florestas primárias —as que ainda não sofreram mudanças por atividade humana.
Essa combinação letal de estiagem com altas temperaturas possivelmente está por trás dos incêndios e da fumaça que atingem dezenas de cidades em São Paulo.
De 1º de janeiro a 23 de agosto, o estado teve 4.973 focos, sendo que quase metade (2.316) deles foram registrados em 48 horas, entre quinta (22) e sexta (23). É a maior quantidade para o período desde o início da série histórica, em 1998.
Na capital, o céu também se avermelhou por causa da fumaça que migrou dos incêndios na amazônia e no pantanal, pelos chamados rios voadores, para o Sul e Sudeste do país. Do Acre ao Rio Grande do Sul, dez estados foram afetados.
O recado para o poder público é claro: deve-se incrementar o monitoramento ambiental, com diagnósticos que permitam algum grau de previsibilidade de fenômenos extremos, fiscalizar e punir com rigor atividades ilegais que abalam ecossistemas e, principalmente, instituir planos integrados de adaptação, prevenção e contenção para emergências climáticas.
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