Tá doido para provar aquele vinho que você viu no Instagram?
Aconteceu: o vinho rejuvenesceu. Depois de anos ouvindo que a bebida estava ameaçada por um mercado fechado e sisudo, que rumava à extinção por ser incapaz de se renovar, vejo mãozinhas cheias de colágeno empunhando taças com o mesmo entusiasmo que outrora dedicavam aos drinks.
É a nova coquetelaria ou talvez a nova cerveja artesanal. Difícil dizer. Nos anos 2000, quando o amor por dry martinis e que tais renasceu, guiado pelo hype da série de TV "Mad Men", havia a mesma aura cool que vejo hoje nas taças servidas nos bares de audição que pipocam em São Paulo.
Por outro lado, os símbolos de uma juventude desencanada comum à revolução cervejeira estão em muitos dos redutos de nerds do vinho: cadeiras de praia, playlists recheadas de hip hop e até cachorros que, misteriosamente, são tema de escolha de diversas logomarcas de winebars.
Vejo o Instagram como um grande ator desse rejuvenescimento. E não falo dos influencers de vinho, que fazem trabalho educativo mas também jabazeiro, pago por grandes marcas. Falo aqui da boa e velha fotografia que qualquer um de nós pode postar.
Já faz algum tempo que os restaurantes entenderam que as fotografias dos pratos tiradas pelos clientes (e postadas em redes sociais) fazem muito por eles, ao despertar desejo e atrair mais comensais. Foi aí que passaram a desenvolver pratos mais fotogênicos e a pensar na iluminação de seus salões. Agora vejo que o Instagram faz o mesmo pelos vinhos.
Ao rolar o feed, fica claro que há "coleções" a cada nova estação, como ocorre na moda. Há vinhos que viram tendência, que se repetem com bastante frequência em diferentes perfis, e depois cansamos deles —e eles somem. Muitos têm etiquetas marcantes, com desenhos divertidos e trocadilhos. Outros são apenas lindos e muito modernos.
Aqui, vamos tirar o chapéu para designers do mundo inteiro que começaram a se dedicar aos rótulos da bebida. Apesar de saber que não se deve julgar livro pela capa, sei que tem muita gente comprando vinho pela etiqueta.
Vale dizer que essa estética pop costuma apontar para um tipo de vinho. É parte de um movimento que busca mais leveza, frescor, acidez, fruta fresca mais delicada e, quem sabe, até um discreto "funky", odor deslocado que pode lembrar nos melhores casos a fermentação de um pão e, nos piores, melhor não comentar.
Já provei muitos desses rótulos instagramáveis e digo que, por sorte, há mais vinhos ótimos que ruins nessa lista. O problema é que a maior parte deles tem o preço salgadinho e, por isso mesmo, entram naquele lugar aspiracional meio mala. O que era pra ser apenas legal vira uma coisa de status, ainda que disfarçadamente, porque há um verniz moderno.
Quem deu um Google para ver o preço de um Gut Oggau, cujos rótulos trazem retratos expressivos feitos a grafite em fundo branco, expressão máxima do hipsterismo enófilo, sabe do que eu estou falando.
O que acontece, no fim, é quase uma vingança: esses vinhos, que começam como trend, depois viram meme. Perfis como o brasileiro @bebiodicionario e os gringos @winememes4teenz, @shittywinememes e @six_parallels_south são ótimas fontes para desmistificar —argh, essa palavra tão desgastada— os vinhos mais cool. E lembrar que o mais gostoso é beber os vinhos pelo que eles são, não pelo que parecem.
Vai uma taça? Um dos últimos gritos da moda no Instagram são os vinhos da austríaca Meinklang, cujo pét-nat Foam Vulkan (R$ 189, Uva Vinhos) traz notas cítricas, herbáceas e de pão de fermentação natural. Os pét-nats da Vivente também são bons de feed, com destaque para o Glera Chardonnay (R$ 159 na loja da vinícola). Da coleção 2023-21, gosto do espanhol Volandera (R$ 166, Domínio Cassis ), um Garnacha com cereja e um toque de alcaçuz que vem numa garrafa linda.
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