Fogo cruzado
Ao longo dos mais de dez meses de guerra após o início da ofensiva terrorista do Hamas contra Israel, o temor de uma escalada permeou o cálculo de todos os atores em cena —exceto o do grupo palestino, que contava com ela.
Tal cenário quase se concretizou em abril, quando o Irã —líder de uma rede que inclui o Hamas, o Hezbollah libanês, os houthis do Iêmen e outros— atacou Israel pela primeira vez na história.
Tratava-se de uma retaliação, na espiral sem fim de acusações entre as partes. No entanto a inapetência para um embate mais visceral fez a operação ser antecipada e, ao fim, defletida pelos israelenses e seus aliados. A tréplica de Tel Aviv viria a ser ainda mais calculada.
Se no Irã a fragilidade política do regime tem pautado a cautela, no caso do Hezbollah era o medo de tornar a situação no Líbano mais caótica que incentivava o comedimento. Mas isso mudou recentemente, culminando num ataque mortífero a Israel no fim de julho.
Tel Aviv respondeu matando o número 2 no comando do grupo em Beirute. Horas depois, foi a vez de uma explosão eliminar o líder do Hamas, durante visita a Teerã.
A perversa lógica regional fez o mundo esperar uma retaliação anunciada, e talvez conjunta, de Irã, Hezbollah e até houthis. No domingo (25), os libaneses de fato resolveram atacar.
Antes, Israel promoveu o maior bombardeio em 18 anos contra o rival. Os fundamentalistas, por sua vez, lançaram centenas de foguetes, mísseis e drones.
Notável nas ações foi a parcimônia tática, com poucas baixas. Para alívio dos EUA, que mantêm dois grupos de porta-aviões vigiando o cenário, canais de distensão foram acionados. Já o Irã reiterou suas ameaças, até aqui vazias.
Numa guerra que muitos veem como inescapável entre Israel e Hezbollah, o resultado foi mais adiamento. Ambos podem dizer que mostraram força, dando um respiro fugaz à crise.
Sem um cessar-fogo em Gaza, contudo, a espada de Dâmocles seguirá pendendo sobre o Oriente Médio: basta um míssil atingir um alvo sensível, em erro de operação, e tudo poderá colapsar.
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