Já ficou ridículo
A posição do governo brasileiro de cobrar da Venezuela a publicação das atas eleitorais que supostamente asseguraram a reeleição de Nicolás Maduro até fazia sentido nos dias que se seguiram ao pleito. Era uma forma de não reconhecer a vitória obviamente fraudada do autocrata sem bater muito de frente com o regime e perder capacidade de influenciá-lo.
Insistir nessa posição hoje, porém, é ridículo. A Justiça venezuelana já disse que as atas não serão divulgadas. Qual será a situação daqui, digamos, três anos? O Brasil continuará cobrando a publicação do papelório?
Lula fez a aposta errada quando achou que seria possível, no âmbito do acordo de Barbados, trazer a Venezuela de volta para as fileiras da democracia com a realização de uma eleição limpa. Não digo que a tentativa fosse inválida. Até os EUA, críticos de longa data do bolivarianismo, fizeram parte desse esforço.
Já passa da hora, porém, de reconhecer que deu tudo errado. Não penso que seja o caso de romper relações com Caracas. A Venezuela não é a primeira nem será a última ditadura com a qual o Brasil se relaciona. Mas, a menos que Lula queira consagrar-se como tutor de tiranetes de estimação, é necessário esfriar as relações com Caracas, deixando claro que o Brasil não chancela a fraude nem as violações a direitos humanos perpetradas pelo regime bolivariano.
E isso nos leva a uma questão mais geral, que é a do poder do presidente de determinar os rumos da política externa do país. Não há dúvida de que essa é uma atribuição do Executivo. Mas seria importante que os presidentes se pautassem por uma política de Estado e não apenas por interesses de governo, partido ou mesmo pessoais.
Isso nos pouparia de inconsistências. Sob Bolsonaro, o Brasil rompeu relações com Caracas. Sob Lula, Maduro foi recebido com tapete vermelho em Brasília. Quem concluir que o Brasil não é um país muito sério não estará errado.
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