É crucial iniciar o processo de adaptação antes que eventos climáticos extremos ocorram, diz cientista da Nasa
O cientista Alex Ruane apresentará nesta sexta-feira (30), na Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), a conferência "Mudanças Climáticas e Segurança Alimentar – dos Modelos às Avaliações e Soluções". Ruane é pesquisador no Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa, a agência espacial norte-americana, onde codirige o Grupo de Impactos Climáticos.
Também é cientista associado do Centro de Pesquisa de Sistemas Climáticos da Universidade Columbia, na cidade de Nova York. Integrou a equipe de redação do 6º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC AR6), da Organização das Nações Unidas, e foi o autor principal do capítulo 12, que traz informações sobre riscos climáticos.
Parte da série Conferências Fapesp 2024, sua apresentação vai tratar de soluções sustentáveis para mitigação e adaptação às mudanças climáticas, apontando também os limites de tolerância para a reprodução de determinadas espécies. Como preparação para o evento, Ruane concedeu à Agência Fapesp esta entrevista exclusiva.
💥️Recentemente, houve um grande alvoroço na mídia causado pela falsa notícia de que o Brasil poderia se tornar inabitável nos próximos 50 anos. Essa desinformação, posteriormente desmentida por vários pesquisadores sérios, foi baseada em uma citação retirada de contexto da reportagem "Too Hot to Handle", publicada no site da Nasa. De todo esse imbróglio, fica uma pergunta: considerando os cenários atuais, é possível fazer afirmações realmente consistentes sobre regiões que se tornarão inabitáveis no futuro? Quais são essas regiões?
O mundo está cada vez mais transitando da pergunta ‘os seres humanos estão mesmo aquecendo a Terra?’ [sim, estamos] para questões relacionadas a como as mudanças climáticas afetam as coisas que valorizamos na natureza e na sociedade.
Isso envolve detalhes muito mais específicos sobre regiões, ecossistemas e comunidades, com informações robustas que nos permitam planejar a adaptação antes que os desafios cheguem à nossa porta.
Para tanto, é preciso rastrear e projetar um grande número de condições climáticas [por exemplo, calor extremo, inundações, secas, aumento do nível do mar] e os limites de tolerância para os recursos hídricos, a agricultura, a pesca, a infraestrutura de produção de energia e transporte, a indústria, a saúde humana e os ecossistemas naturais etc. A discussão em torno de extremos de calor e saúde mostra como as projeções de impactos climáticos e o planejamento de adaptações podem ser complicados.
Uma newsletter com o que você precisa saber sobre mudanças climáticas
Primeiro, reconhecemos que os humanos não sofrem estresse térmico por causa da temperatura global, mas sim devido a mecanismos biofísicos relacionados à exposição prolongada a condições locais de calor que estão além de nossa capacidade de enfrentar. Usamos a transpiração como um mecanismo principal para regular a temperatura do nosso corpo, mas sua eficácia depende da temperatura e da umidade do ar.
Geralmente, condições mais quentes e úmidas são mais desafiadoras, e faz sentido dizer que existam limites biofísicos ao que um corpo humano pode suportar. Atualmente, há uma extensa pesquisa para determinar qual é esse limite de calor e umidade, incluindo discussões sobre qual índice é o melhor e se os limites relatados são representativos das diversas populações. Precisamos continuar essa pesquisa e também expandir a conversa para entender como diferentes comunidades se adaptaram a condições extremas no passado.
Isso nos dá uma ideia de quais tipos de adaptações podemos planejar para regiões onde essas condições extremas serão novas nas próximas décadas. Por exemplo, calor e umidade extremos podem ser muito perigosos para trabalhadores ao ar livre [por exemplo, na agricultura ou na construção civil], mas, em várias partes mais quentes do mundo, os trabalhadores evitam os horários mais quentes do dia e aproveitam as horas mais frescas da manhã e da noite. Isso pode levar a impactos secundários, se as tarefas agrícolas não puderem ser concluídas a tempo.
O ar-condicionado pode ajudar se os recursos permitirem, embora, é claro, isso possa intensificar o consumo de energia e agravar o problema das mudanças climáticas. Projetar condições "inabitáveis" é, portanto, bastante desafiador e muitas vezes podemos encontrar exemplos de comunidades que já suportam condições extremas. Por exemplo, alguns dos lugares mais quentes e úmidos do mundo incluem a Amazônia, o Sudeste Asiático e partes da Índia.
O que você está lendo é [É crucial iniciar o processo de adaptação antes que eventos climáticos extremos ocorram, diz cientista da Nasa].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.
Wonderful comments