Mortes: Cantou respeito ao axé do povo negro de terreiro
"Eu vim de lá, tenho a força ancestral do candomblé", cantava Leonardo Salomão em sua composição "Respeita Meu Axé". O vocalista do grupo Edún Àrá Sangô prezava por um repertório que exaltasse a religiosidade de matriz africana.
Formou o grupo em 2018, reunindo alguns irmãos de terreiro, todos músicos e dançarinos negros do Recife. Pesquisou o ritmo nagô pernambucano com referências ao culto africano iorubá e à santeria cubana.
Suas músicas passeiam por diversos ritmos, sempre com uma presença marcante da percussão. Como compositor, também criou para o Afoxé Omolu Pa Kérù Awo, o Afoxé Omo Olufã, o grupo Voz Nagô e o grupo de coco Chinelo de Iaiá.
Leonardo Salomão da Silva nasceu no dia 12 de janeiro de 1987. Foi o único filho de sangue da ialorixá Diva de Oyá. O menino cresceu rodeado pela família na comunidade Chão de Estrelas, no bairro Campina do Barreto.
A arte veio de berço, pois são seus tios e primos os fundadores do Centro de Educação e Cultura Daruê Malungo. Foi no projeto social que evidencia a arte negra que o menino teve os primeiros passos artísticos, formando-se como bailarino e músico. Tornou-se arte educador e, em 2002, foi o diretor musical do espetáculo "No Jogo da Dança", que o levou à Europa.
Também dançou no Balé de Cultura Negra do Recife, o Bacnaré, indo para festivais em outros continentes, como a Ásia. Na música, teve experiências na banda Abissal e os Caboclos Envenenados e no grupo Coco dos Pretos, além de ter sido percussionista na banda Expresso Folia.
Salomão foi educador social em várias instituições, entre elas a Fundação Joaquim Nabuco. Seus alunos eram tratados como filhos, eles contam.
"Como eu, muitos jovens também tinham ele como espelho. Ele sempre foi referência na comunidade para todos que vêm da linhagem da dança e da música. Foi um dos primeiros a sair para tocar em bandas e viajar para fora do país", afirma o músico e auxiliar de portaria Madson Japa, 32.
Das artes também ganhou um amor, a bailarina Jacqueline de Luna Almeida, a quem chamava de Kelly. Os dois se conheciam desde criança e estreitaram laços nas danças do Daruê Malungo.
Filho de Xangô, Salomão vivenciou o candomblé desde criança e contava muitas histórias de terreiro. Quando sua mãe ficou doente, teve que ajudar a tomar conta do que ela comandava.
O músico era o brincalhão da roda de amigos, gostava de festejar e beber cerveja. Também tinha carinho pelos animais, de cachorro a passarinho.
Seu último show foi na noite de 21 de julho, no Centro de Educação e Cultura Daruê Malungo, pela programação do Festival Tramas Negras. Morreu no dia 24 daquele mês, aos 37 anos, vítima de um infarto. Deixa a mãe, Maria Diva, 71, e a esposa Jacqueline, 38.
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