Fumaça de incêndios cobriu áreas rurais de SP em 90 minutos
Os incêndios em série que atingiram o interior paulista surgiram de forma quase simultânea e em áreas predominantemente agropecuárias, de acordo com levantamento do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) com base em dados de focos de calor mapeados por satélite.
Dos 2.600 focos de calor registrados em São Paulo no intervalo dos dias 22 a 24 deste mês, 81% ocorreram em áreas de uso agropecuário, como as ocupadas pela cana-de-açúcar e pastagem, aponta o cruzamento das imagens da rede satélites para monitoramento ambiental com informações da cobertura e uso da terra da rede MapBiomas. Cerca de 72% do território paulista é ocupado por atividades rurais.
As imagens do satélite que captura uma nova cena a cada dez minutos mostram o aparecimento das colunas de fumaça no intervalo de 90 minutos, entre 10h30 e 12h do dia 23. Já o satélite que capta focos de calor passa sobre a região na parte da manhã e no final da tarde. Entre suas duas passagens, naquele mesmo dia, o número de focos foi de 25 para 1.886 no estado.
Ao confirmar a simultaneidade do focos, o estudo fortalece comparações entre o episódio no interior paulista com o chamado "dia do fogo", citado pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Ela afirmou que o governo do presidente Lula (PT) investiga se as queimadas no estado têm motivação semelhantes aos incêndios florestais provocados por criminosos em agosto de 2023 nos municípios de Altamira e Novo Progresso, no Pará.
Na ocasião, o jornal Folha do Progresso, de Novo Progresso, publicou que produtores rurais que apoiavam o então presidente Jair Bolsonaro coordenaram a queima de pasto e áreas em processo de desmate.
Na crise atual em São Paulo, a polícia paulista efetivamente identificou pessoas responsáveis por atear fogo, mas o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou nesta segunda (26) que nada leva a crer que essas ações criminosas foram articuladas.
Na nota divulgada pelo Ipam sobre a o estudo das queimadas, a diretora do instituto, Ane Alencar, citou a ocorrência no território paulista como "um dia do fogo exclusivo para realidade de São Paulo". Em entrevista à 💥️Folha, porém, ela disse que os dados não permitem afirmar que há ações orquestradas de incendiários no estado.
"Eu não sei dizer se as motivações foram as mesmas [do dia do fogo] nem se os incêndios foram orquestrados", disse. "O que é estranho é o surgimento de tantos focos de calor em um período tão curto."
De acordo com a análise do Ipam, do total de focos de calor em áreas produtivas no estado de São Paulo no período, 44,45% (1.200 ) ocorreram em áreas de cultivo de cana-de-açúcar. Outros 524 focos (19,99%) surgiram em mosaico de usos, que são áreas agropecuárias nas quais não é possível a distinção entre pasto e agricultura. Ainda ocorreram 247 focos (9,42%) em pastagens e 195 (7,43%) em áreas de silvicultura, soja, cítrus, café e outras lavouras.
Já a vegetação nativa queimada soma 440 focos de calor, ou 16,77% de todos os focos registrados nos três dias. As formações florestais foram as mais afetadas, concentrando 13,57% dos focos de calor no estado.
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